Mercado de trabalho: Campo vs. Cidade
Se nos centros urbanos o excesso de oferta assume-se como uma realidade, será a fuga para o interior a solução para quem deseja estabilidade profissional?
João Martins faz da interioridade mote para o sucesso. Com três clínicas, em Góis, Cernache e Vila Nova de Poiares, no distrito de Coimbra, o médico dentista abraçou a sua ligação à terra. Nas zonas mais pequenas, como é o caso de Góis, “as relações as pessoas são aquilo que mais vale. Aqui nunca se é só um dentista, mas o médico que trata do mecânico, que, por sua vez, também trata do meu carro. Mais do que cuidar doentes, atendo os meus amigos”, enuncia João Martins.
O médico dentista Eugénio Pereira, por sua vez, confia que “há uma tendência crescente em desenvolver trabalho nos pequenos centros do interior, mais carenciados de uma resposta adequada”. O clínico lisboeta refere ainda que “esta opção coloca um interessante desafio para os profissionais”. Ser médico dentista nas pequenas localidades ultrapassa, em muito, as competências profissionais e exige aptidões educativas. “Se é verdade que a população nas grandes cidades já está genericamente motivada para a saúde oral, nas zonas do interior existe um trabalho de fundo muito mais amplo nas áreas de prevenção e manutenção”. Eugénio Pereira salienta ainda que “a informação sobre a importância dos cuidados com a saúde oral levará a que progressivamente a população fora dos grandes centros urbanos dê prioridade a esta área, abrindo boas perspectivas de trabalho aos médicos dentistas”.
Também Fernando Duarte, director clínico da Clitrofa, coloca o acento tónico nos pequenos centros, que “apesar de possuírem menos população potencial, permitem um contacto mais personalizado com o doente e a angariação de mais pacientes através da mesma família”. Em suma, “será preferível ser uma referência num pequeno centro do que mais uma opção numa grande cidade”, expõe.
Mais importante que a equação campo/cidade, Cristina Von Zuben admite que poderia ultrapassar-se a falta de mercado para os recém-licenciados com a adopção de um estágio profissional. “Após a licenciatura, os jovens dentistas deveriam aprender em ambiente clínico. Deste modo, teriam tempo para perceber aquilo de que, efectivamente, gostam e de aprender ainda mais”, sustenta. A médica dentista afiança que assim se criariam “melhores profissionais, orientados para as necessidades das pessoas”.
Para Marcelo Von Zuben a resposta para o actual panorama reside na especialização. “Há muitos dentistas, mas faltam especialistas”, lança. “Hoje em dia é, de facto, difícil encontrar um bom endodontista. A única forma de sobreviver no mercado passa por apostar em formação pós-graduada e compete aos recém-licenciados trilhar esse caminho”, pressagia.
2 Março, 2010
Atualidade