“Os médicos dentistas são dos licenciados mais dispendiosos”

 

No seguimento da história da medicina dentária em Portugal, a DentalPro apresenta, através de Manuel Guedes de Figueiredo, mais um episódio deste percurso. Entre o grupo de timoneiros que fundaram a o curso no nosso país, o professor confessou surpresa quanto ao desenvolvimento da especialidade. Revelou também ter cometido o “crime” de fazer 70 anos, que resultou no seu afastamento da Universidade do Porto.

 

 

DentalPro: Embora com 84 anos ainda dá aulas de Bioética na Universidade Fernando Pessoa. Que valores transmite aos futuros médicos dentistas?

Manuel Guedes de Figueiredo: Antes de mais nada, sou do parecer que ter ético é mais importante que saber anatomia. Sinto que vivemos uma crise grande de valores na nossa classe. Afirmo mesmo que, do número total de estudantes de medicina dentária, cerca de dez por cento nunca devia ter entrado no curso. Tanto pela postura que demonstram ao longo dos anos académicos, como pelo desempenho que exibem. Nota-se a existência de muitos aldrabões. Costumo remeter sempre para um estudo que a Universidade de Harvard fez aos seus alunos de Medicina, feito também em Coimbra, mas aqui aplicado a todos os formandos do ensino superior. Concluiu-se em ambas as instituições a presença de pessoas movidas apenas pela ganância, com pouca motivação quer para a medicina quer para outras actividades. É generalizado e vem desde há muito tempo. Nos tempos em que ainda pesquisava métodos no estrangeiro, para aplicar no nosso curso de medicina dentária em formação, cheguei a trocar impressões sobre esta problemática com um colega da Faculdade de Cirurgia Dentária de Montpellier.

 

DP: Fale-nos da sua separação da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto.

MGF: Costumo falar dessa cisão em tom brincalhão. Cometi lá determinado “crime” e puseram-me na rua. Não faça profilaxia para não o cometer como eu. Significa que como funcionário público atingi os 70 anos e tive mesmo de reformar-me.

 

DP: A homenagem da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária durante o congresso anual reavivou a memória…

MGF: Sim, fez-me recordar os tempos em que se demarcou a controvérsia dos odontologistas, em linguagem corrente denominados por intrusas ou arrincas, que paralelamente aos estomatologistas, se dedicavam à boca. Foi um grupo que cresceu de modo preocupante na altura do regresso do ultramar e que reclamou uma posição. Se por um lado a Ordem dos Médicos tentou limitar a sua proliferação, por outro o 25 de Abril deu-lhes legitimidade para crescerem. O problema é que 42 por cento destes indivíduos só tinham a quarta classe e fracos conhecimentos teóricos sobre o que faziam. Ainda hoje subsistem. Digamos que impeliram os estomatologistas a pensarem no ensino da medicina dentário noutros moldes que não o da estomatologia.

 

DP: É reconhecido pela faceta de folião entre os seus ex-alunos…

MGF: Sim, e estive sempre muito atento às praxes. Considero-me um praxista, no sentido equilibrado desta prática, claro (risos). Recordo-me da minha praxe com saudades e do ovo que me esfregaram na cabeça, durante o baptismo. Enquanto docente incentivei os meus alunos a divertirem-se. Aliás depois do 25 de Abril houve diminuição da actividade estudantil neste sentido, devido à conotação dos estudantes com o fascismo. Quando cheguei ao primeiro “último ano” do curso incitei-os a fazerem uma festarola. Até levei uma caixa de champanhe. Foi a primeira actividade extracurricular. No ano seguinte já se retomou a queima das fitas e curiosamente os carros de medicina dentária foram classificados em primeiro lugar durante alguns anos. ●

5 Novembro, 2010
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