Imigrante Portuguesa
Crónica da médica dentista Cátia íris Gonçalves:
“Nunca quis ir viver para outro país e, quando me falavam disso, era um assunto abortado logo ali, à entrada da moleira e do pericárdio.
Tenho a certeza de que pensei uma vez no assunto e chegou – há assuntos assim, nos quais pensamos uma vez e chega.
É preciso conhecermos os nossos apetites, intuições e apetências cedo na vida e decidi não tentar ser feliz longe da minha casa – “casa” num sentido bem mais abrangente do que um tecto ou mesmo uma proximidade à família.
Admiro quem vai e admiro quem fica, mas, acima de tudo, admiro quem o faz com juízo, consciência e coração – só assim se pode decidir uma coisa destas.
No entanto, o português não é do mundo, é português – enquanto o dinamarquês, o inglês, o francês ou o americano são mais facilmente de qualquer lado, estão a ver.
O português, quando vai, mesmo que lá fique por opção, gostava sempre de voltar – e esta é uma das coisas que distingue o nosso povo dos outros.
A emigração é mais do que uma moda: tem sido uma necessidade. E eu sou veementemente avessa a ambas.
Claro que se precisamos de sobreviver, tudo deverão ser opções – mas, ah!, aí está – nem tudo. E cada um saberá das suas.
Tem-se ouvido tanta palermice, nos últimos anos, sobre este assunto, que o cansaço já me impede de comprar mais discussões; assim, aqui no silêncio conveniente e confortável da minha casa, com as minhas gatas outrora vadias portuenses, digo-vos que ficar cá foi, no meu caso, um acto de fé, de teimosia e de reclamação de um direito – que ainda o é, acho eu: ficar”.
Leia a crónica completa na DentalPro 135.
10 Maio, 2019
Opinião