Cátia Íris Gonçalves: Covid-19 e o impacto na medicina dentária
A médica dentista Cátia Íris Gonçalves partilha com a DentalPro qual será o impacto da Covid-19 no ramo da medicina dentária.
“Esta pandemia já está a afetar profundamente e de forma transversal a economia mundial, embora haja países que seguramente serão mais severamente afetados do que outros. Temos a sorte de viver num país com mar, clima temperado, alguns valores solídários, cheio de gente criativa e empreendedora, principalmente no setor privado, qualidades indispensáveis para nos reerguermos economicamente. Especificamente no setor da medicina dentária, gostaria de ser otimista, mas infelizmente julgo que, na realidade, assistiremos ao eclipsar de algumas clínicas com uma gestão menos profissional ou com tesourarias mais limitadas. Se a nossa profissão já estava afogada em despesas das mais variadas e cumprimento de requisitos, taxas e impostos sem fim, durante e depois deste flagelo será muito difícil a sobrevivência de todas as clínicas que compõem a rede privada de assistência à saúde oral da qual fazemos parte. Principalmente por sermos considerados veículos perigosos de contaminação – e termos a atividade compreensivelmente suspensa, por decreto governamental – e não estarmos a receber os apoios necessários para fazer frente à não-faturação, à manutenção de algumas despesas obrigatórias e mesmo ao lay-off dos funcionários, os quais são em parte suportados pela entidade empregadora. É impossível e impensável mantermos as clínicas a sobreviver apenas dos tratamentos considerados urgentes. Para não falar da escassez global de EPIs, da falta de apoio ao sócio-gerente, que em muitos casos trabalha tanto ou mais do que os seus colaboradores, na ausência de medidas que reduzam os gastos com impostos, taxas, etc.”.
Cátia Íris Gonçalves confidenciou ainda: “Incomoda-me a ideia generalizada de que o médico dentista é um usurpador milionário. É importante desconstruir este mito criado nos anos dourados que há muito já lá vão. A maior parte das clínicas são micro (nano!-) – empresas que garantem, com o seu trabalho, uma vida de contas saldadas mensalmente aos seus donos, colaboradores e ao próprio estado, através das suas obrigações fiscais. Do ponto de vista do funcionamento clínico, adoção de protocolos e prioridades, tudo mudará. Serão os próprios pacientes a seleccionar as clínicas que ofereçam as melhores condições higiénicas, de controlo de assépsia e biossegurança durante os tratamentos. Isto requer, obrigatoriamente, mais tempo de consulta, mais tempo de desinfeção entre pacientes, implementação de ainda mais medidas, material e sequências de cuidados de descontaminação, portanto, mais recursos, resultando também em despesas acrescidas – para os profissionais e, consequentemente, para os utentes”.
Não perca esta e outras opiniões na próxima edição da DentalPro.
15 Abril, 2020
Opinião