Estomatologista português cria base de dados europeia de intervenções cirúrgicas
O médico estomatologista português David Ângelo está a construir uma base de dados que irá registar todas as intervenções cirúrgicas na articulação temporomandibular realizadas na Europa. Depois de ter recebido o “Prémio de Investigação 2019” do S.O.R.G. – Strasbourg Osteosyntehesis Research Group, uma prestigiada sociedade científica europeia que promove investigação clínica – David Ângelo obteve financiamento da Sociedade Europeia de Cirurgiões da Articulação Temporomandibular (ESTMJS) e começou em 2020 a conceber uma plataforma informática que irá registar os diagnósticos, intervenções e evoluções pós-operatórias de todos os doentes no espaço europeu, de uma forma rigorosa e de fácil utilização pelos médicos.
A disfunção da articulação temporomandibular é uma patologia incapacitante dos músculos da mastigação e/ou da articulação temporomandibular (área onde a mandíbula se articula com o osso do crânio), mais comum em mulheres entre os 20 e os 50 anos de idade. Para além de dores intensas no maxilar e na face, a disfunção pode comprometer a mastigação dos alimentos, bloquear a articulação e/ou limitar a abertura da boca, em alguns doentes de forma severa.
“Desenhei este projeto e candidatei-me ao financiamento, porque queria obter informação rigorosa de doentes operados à articulação temporomandibular na Europa, mas a informação que existe está muito desorganizada, é de difícil acesso, com registos muito heterogéneos, e assim não é possível tirar conclusões válidas”, afirma David Ângelo, que é o único cirurgião português a integrar a ESTMJS.
O projeto “EuroTMJ” – o nome que David Ângelo deu à sua base de registos europeus – tem precisamente o objetivo de uniformizar, sistematizar e simplificar a forma de registar a informação clínica relevante. Em alguns casos trata-se apenas de um processo de digitalização, dado que em muitos centros os dados ainda são registados em papel.
“A forma de registar a informação tem mesmo de ser ‘standard’, pois só isso abrirá a possibilidade de criar algoritmos que sejam preditores do maior sucesso de determinadas técnicas cirúrgicas”, afirma David Ângelo. “Pequenos detalhes técnicos podem fazer uma enorme diferença na evolução e recuperação dos doentes, por isso é crucial que a informação introduzida seja precisa e exata: só isso nos permitirá ter o ‘filme’ rigoroso de cada doente, desde a primeira observação na consulta médica até ao acompanhamento ao longo de décadas após a intervenção”.
Segundo o estomatologista português, interessa para a ciência médica saber como irá estar um doente que fez em 2020 uma artroscopia nível 2, por exemplo daqui a 30 anos. “Só o acompanhamento do doente numa base de dados rigorosa permitirá perceber com detalhe o diferente impacto, a médio e longo prazo, das distintas técnicas cirúrgicas”, afirma David Ângelo.
Serão os milhares de “filmes” clínicos introduzidos na base de dados que irão permitir atráves de “machine learning”, na área da articulação temporomandibular, chegar a novas conclusões sobre as técnicas mais seguras e eficazes a propor para cada patologia específica. “Em primeiro lugar, permitirá fazer uma simples análise quantitativa das diferentes intervenções cirúrgicas à articulação temporomandibular realizadas na Europa, dados que são desconhecidos neste momento”, afirma David Ângelo. Na Europa, não há dados sobre o número de artroscopias realizadas em 2019, ou número de próteses da articulação temporomandibular colocadas no 1º semestre de 2020: nos Estados Unidos, por exemplo, essa informação é facilmente acessível.
O cirurgião português sublinha que a plataforma “EuroTMJ” terá de manter o rigor dos registos ao mais alto nível. Só isso permitirá que a informação reunida possa gerar novo conhecimento e proporcionar aos doentes tratamentos seguros e com resultados de excelência.
Saiba mais numa das próximas edições da DentalPro.
18 Agosto, 2020
AtualidadeMedicina dentária