Menos de 3 em cada 10 pessoas reconhecem os sintomas do cancro da cabeça e do pescoço
É o sexto tipo de cancro mais comum na Europa, com cerca de 160.000 pessoas diagnosticadas todos os anos. Mas, apesar da dimensão dos números, um inquérito feito junto dos cidadãos de cinco países, entre os quais Portugal, revela um desconhecimento generalizado (73%) sobre os sintomas do cancro da cabeça e do pescoço. Os dados são divulgados no âmbito da 8ª Semana de Sensibilização para o Cancro de Cabeça e Pescoço, que decorre entre 21 e 25 de setembro, conhecida internacionalmente como Make Sense Campaign e liderada em Portugal pelo Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço (GECCP), que deixa o apelo: Fique atento ao cancro de cabeça e pescoço: não demore mais e procure ajuda médica na presença dos sintomas – hoje é o dia.
Alertar a população em geral e os profissionais de saúde para a importância de reconhecer os sintomas da doença e do diagnóstico precoce, que prolonga e salva vidas, é o grande objetivo desta campanha, sobretudo em tempos de pandemia. É que a relutância criada pela Covid-19 em procurar aconselhamento médico preocupa os especialistas, sugerindo que estamos a enfrentar uma verdadeira ‘bomba relógio’ no que diz respeito aos atrasos no diagnóstico desta doença, que pode ser fatal.
O inquérito agora apresentado, uma iniciativa da Sociedade Europeia de Cabeça e Pescoço, no âmbito da campanha e da Coligação Europeia de Doentes com Cancro, auscultou 5.700 pessoas na Alemanha, Itália, Polónia, Portugal e Turquia, revela que apenas 27% dos entrevistados admitem conhecer, com toda a certeza, os sintomas do cancro da cabeça e do pescoço, com 38% a confirmarem nunca ter ouvido falar deste tipo de tumor.
Tendo sido dado a escolher, a partir de uma lista, quais os sintomas que correspondem ao cancro da cabeça e do pescoço, que representa todos os tipos de cancro diagnosticados na região da cabeça ou pescoço, incluindo a boca e a língua, garganta e laringe, os inquiridos variaram na sua capacidade de identificar corretamente os mesmos. Ao todo, 58% identificaram corretamente a presença de um caroço no pescoço como um dos sintomas, tendo os restantes, como dor ao engolir (38%), sangramento frequente do nariz (26%), manchas vermelhas ou brancas na boca (21%) ou nariz entupido com frequência (12%), sido referidos por uma percentagem cada vez menor.
Em média, apenas 45% dos inquiridos admitiram visitar um profissional de saúde na presença de um destes sintomas durante três ou mais semanas, apesar de ser esta a medida recomendada pelos especialistas. Situação que se agrava ainda mais em tempos de Covid-19, que tem afastado as pessoas dos serviços de saúde. Atualmente, quase 30% dos inquiridos revelaram ser menor a probabilidade de marcarem uma consulta com um profissional de saúde devido à pandemia.
No que diz respeito aos fatores de risco, o inquérito confirma que há ainda muito a fazer no que diz respeito à informação sobre o cancro da cabeça e do pescoço. Apenas 57% dos inquiridos identificaram o tabaco como fator de risco e só 31% fizeram o mesmo com o consumo de bebidas alcoólicas, apesar de serem estas as principais causas associadas ao cancro da cabeça e do pescoço. Menos ainda foram os que identificaram o HPV, uma infeção vírica sexualmente transmissível e transmitida de pele a pele, como fator de risco: apenas um em cada cinco o conseguiu fazer.
O inquérito permitiu ainda verificar que só um em cada quatro inquiridos sabia que ter mais de 40 anos aumenta o risco deste tipo de cancro e menos ainda, 5%, reconheceram facto de se ser homem um fator de risco.
“Estes dados confirmam a necessidade de mais informação sobre os fatores de risco e os sinais de alerta do cancro da cabeça e do pescoço, uma informação que pode salvar vidas”, refere Ana Joaquim, em nome da direção do Grupo de Estudos do Cancro da Cabeça e do Pescoço. “O diagnóstico precoce é uma grande prioridade, mas para isso é necessário que se consigam identificar os sintomas. Só em Portugal são diagnosticados 3.000 novos casos por ano, casos esses que, se forem diagnosticados em fase precoce, têm uma taxa de cura de 80 a 90%. No entanto, dois em cada três casos ainda são diagnosticados em fase avançada, o que justifica que ainda seja responsável pela morte de três portugueses por dia. É preciso mudar estes números, o que se pode fazer com mais e melhor informação”.
22 Setembro, 2020
AtualidadeMedicina dentária