“A medicina dentária nasce em Aveiro”

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DentalPro: Como se iniciou esta paixão que o liga à medicina dentária?

António Faria Gomes: Esta paixão deve-se, em primeiro lugar, a um homem por quem nutro um amor acrisolado, o meu pai. Ele era enfermeiro protésico dentário e aos meus 12 anos comecei a trabalhar com ele no enchimento, na passagem a gesso dos modelos, …Tudo isto aguçou-me a vontade. Também o meu padrinho, que era médico, levou-me a ingressar em medicina. E, já em Coimbra, contactei com outra figura que me acicatou brutalmente para a área de estomatologia, o director do Serviço de Estomatologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), David Baptista.

DP: Mais tarde assumiu funções de docência na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) …

AFG: Sim, em 1985 fui para Coimbra dar aulas de prótese fixa. Mais tarde, comecei a sentir o “bichinho” da implantologia e juntei-me a alguns colegas portugueses e espanhóis para acompanhar a emergência dos implantes. Faz agora 15 anos que coloquei o primeiro implante no centro do país, juntamente com o especialista Fernando Jorge Mendes, dos HUC.

DP: Viveu também a criação das primeiras escolas de medicina dentária no Porto e em Lisboa.

AFG: Antes disso, a medicina dentária nasce em Aveiro. É algo que muito pouca gente sabe, mas foi no final de 1974, no rescaldo da eclosão do 25 de Abril, que o presidente da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária (SPEMD) na altura, Falcato Simões, promoveu, com a minha insistência, um plenário, com vista à discussão dos estudos nesta área. Daqui saiu uma comissão para o estudo da estomatologia organizada em Portugal.

DP: Foram momentos de grande união para os profissionais da classe?

AFG: Sim, sinto-me feliz por ter contribuído para o nascimento da medicina dentária. Na altura, as grandes dificuldades para a implementação das escolas de medicina dentária passavam pelo espaço físico. Recordo que Fernando Peres e Campos Neves disseram: “para o ano já temos isto aberto e, depois do menino cá fora, alguém dará de mamar”. E assim foi. Volvido um ano já existia a escola do Porto e, no ano seguinte, a de Lisboa.

DP: Como vê o facto de Coimbra ter ficado “de fora”, continuando ligada à FMUC?

AFG: Devo dizer que nunca concordei. Acredito que esta união tem vantagens, mas acarreta muito mais desvantagens. Porém, na altura a maioria das pessoas era favorável à integração e impôs-se a economia de recursos.

DP: Quais os momentos mais marcantes do seu percurso?

AFG: A comissão para a medicina dentária aqui em Aveiro afirmou-se como um deles. Depois, o ensino. Certo dia, um dos meus alunos dirigiu-se a Lisboa para fazer o exame para especialista e disseram-lhe: “Nunca pensei que Aveiro estivesse neste nível”. Foi o melhor elogio que me poderiam ter feito. A parte mais aliciante da minha vida foi, sem dúvida, transmitir o pouco que sabia. Eu nunca me avalio, quem o faz são os meus pacientes.

DP: Os colegas mais novos nutrem por si um grande carinho. A que se deve esta afeição?

AFG: Alegra-me muito receber todo este carinho. Não sei dizer ao que se deve, mas a verdade é que fiz tudo o que pude pela minha especialidade. Nos anos em que estive à frente da SPEMD esforcei-me por garantir um maior acesso à formação, baixando os preços dos cursos e trazendo amigos portugueses e espanhóis para ensinar os mais novos. Transmiti e fiz tudo o que podia. Será isso que leva colegas, desde o Minho ao Algarve, a prezarem o meu legado.

DP: Continua a atender pacientes e a dar aulas esporadicamente. Para além de uma profissão, a estomatologia assume-se como um modo de vida?
AFG: Eu entendo que enquanto a tríade cérebro-olhos-mãos estiver em pleno funcionamento, ainda se pode trabalhar. Basta um destes elementos falhar que saio de cena, sem hesitar.

DP: O que reserva o futuro para esta área?

AFG: Quando comecei a trabalhar, ainda jovem, na prótese, o meu pai tinha um motor a pedal e nem faço ideia de quantas rotações aquilo teria, provavelmente umas 800 por minuto. Nos anos 60, quando iniciei actividade, comprei o primeiro motor eléctrico do mercado, com 4000 rotações por minuto. No ano seguinte, adquiri uma nova equipa, com um motor de cerca de 20 mil rotações. Entretanto, atingiram-se as 120 mil rotações, até que chegaram as turbinas com 300 a 400 mil rotações por minuto. Hoje opero com 500 mil rotações por minuto. Digo muitas vezes aos meus alunos que na medicina dentária a evolução dos últimos 100 anos foi mais rápida que em toda a história.

BIO: António Augusto Faria Gomes nasce a 12 de Maio de 1930 em Mortágua, Viseu. Aos dois anos segue para Tondela e, mais tarde, para Coimbra, para iniciar os seus estudos em medicina. Em 1961 conclui a especialidade em estomatologia e, no meio ano seguinte, permanece ligado aos HUC. Depois de uma breve passagem por Santa Comba Dão e Tondela, opta por abrir consultório próprio em Águeda. Ingressa no Serviço de Estomatologia do Hospital de Aveiro em 1974 e em 1985 regressa a Coimbra para abraçar a docência na FMUC. António Faria Gomes assume ainda a presidência da SPEMD entre 1980 e 1983, é membro do International College of Dentists e da Sociedade Espanhola de Prótese Estomatológica. Actualmente exerce clínica privada em Aveiro e dá ainda azo ao seu gosto pelo ensino, com idas esporádicas à FMUC.

 

 

3 Março, 2010
Atualidade

 
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