“Não há garantias quando lidamos com pessoas”
DentalPro: Desde que trabalha na área da implantologia muitas foram as evoluções em marcha. Com a osteointegração como dado adquirido, é na estética que reside o desafio actual?
Bertil Friberg: Antes de mais, não podemos esquecer que estamos, de facto, a tratar os piores doentes da sociedade. No Instituto Bränemark de Gotemburgo atendemos pessoas praticamente edêntulas, com graves patologias orais. E o onde o dente não funciona, pede-se que o artificial corresponda de imediato e exiba uma estética irrepreensível. E o problema reside exactamente aí, porque o sucesso em implantologia depende das condições do paciente e estas alteram-se ao longo do tempo e afectam a saúde dos implantes.
DP: Os pacientes têm consciência destas dificuldades ou confiam que os implantes duram para sempre?
BF: Há muito poucas coisas em medicina dentária tão estudadas como os implantes. Colocou-se o primeiro implante há exactamente 45 anos e hoje esta constitui uma solução amplamente comprovada e com taxas de êxito na ordem dos 90-98 por cento. Mas, como em tudo na vida, não podemos afiançar a eternidade. Muitas vezes, o implante dura mesmo “uma vida”, mas a garantia que damos aos pacientes é de uma longevidade de 20 anos. Claro que durante este tempo convém mudar a coroa. O que as pessoas têm de compreender é que não se pode esperar mais de uma solução artificial do que dos seus dentes naturais.
DP: Recordo que a dado momento da sua apresentação no Portugal Implantologia 2009 referiu que “a natureza não se compadece com a estética”…
BF: Sim. Com isto quero salientar que quando realizo, por exemplo, um aumento ósseo a um paciente no início tudo se apresenta equilibrado, estético. Porém, se esse mesmo osso não for estimulado pela mastigação e demais movimentos, perde-se rapidamente. Convém referir também que a resposta biológica não é igual em todas as pessoas. Há casos de doentes que, num único ano sem um dente, sofreram uma retracção óssea assinalável, enquanto outros passam décadas praticamente sem dentição e dispõem de uma densidade óssea notável.
DP: É curioso perceber que o seu discurso se foca fundamentalmente nas pessoas, nos casos particulares…
BF: Quando se atinge uma taxa de êxito tão elevada como na implantologia, são os casos particulares que fazem a diferença. É através da atenção dedicada às necessidades dos vários doentes que se processam os pequenos ajustes que assinalam a excelência nesta área. O paciente deve constituir o nosso principal objectivo terapêutico, ele assume-se como o elemento multifactorial que traça, em definitivo, o limite entre o sucesso e o fracasso. O meu melhor paciente agora, pode reverter-se no pior daqui a cinco ou dez anos.
DP: Que factores concorrem para essa alteração?
BF: Já assisti a muitas pessoas ficaram completamente reduzidas. Perde-se um filho, um ente querido, começa-se a beber, surgem problemas financeiros, divórcios morosos. Todas estas situações fragilizam as nossas defesas naturais. Por isso torna-se tão complicado dar receitas. Não há garantias quando lidamos com pessoas.
Bertil Friberg nasce a 10 de Abril de 1950 em Gotemburgo, Suécia. Em 1975 obtém o seu diploma em medicina dentária pela Universidade de Gotemburgo (UG). Nos anos seguintes trabalha como médico dentista no serviço público. Entre 1979 e 1982 ingressa no Hospital de Eksjö e enceta a sua formação em cirurgia oral. Um ano volvido e regressa à UG para desempenhar funções de docência. Entre 1985 e 1988 reparte-se entre os departamentos de Cirurgia Oral da UG e da Clínica Bränemark, até que opta, em definitivo, pela clínica. Em 1999 torna-se doutorado em Ciências Dentárias. Hoje assume-se como professor assistente, chefe da Divisão de Cirurgia e co-responsável pela Clínica Bränemark, assim como professor convidado na Universidade de Siena, em Itália. Bertil Friberg é, igualmente, presença assídua em congressos e conferências de todo o mundo.
4 Maio, 2010
Entrevistas