Primum non nocere
Um dos fundamentos da bioética, também conhecido como princípio da não-maleficência, actua na prevenção quaternária – aquela que tenta evitar a iatrogenia. Mais do que moral e ético, é um princípio racional, lógico – que se pode traduzir, em gíria portuguesa, para “se achas que vai dar merda, não mexas”.
Parece fácil, mas nem sempre observamos, com lucidez, as implicações futuras das nossas acções e interferências, o que nos deve remeter para uma dimensão de cuidado e ponderação excepcionais antes de decidirmos, activamente, mudar circunstâncias anatómicas, funcionais, estéticas e até patológicas, adivinhando os riscos potenciais de um mal maior.
As crianças, não sendo fabulosas a praticar este conceito de “não mexer no que está quieto porque pode correr mal”, são óptimas a pressentir quem delas se acerca com esta noção pouco presente, ou daqueles que, de forma irresponsável, interferem, sem considerar cuidadosamente as consequências físicas ou psicológicas.
Não digo que as crianças não sejam inocentes, pelo contrário – digo antes que a sua exclusiva qualidade de inocência, pelo menos até por volta dos 10 anos, os capacita de uma observação hiper-realista em certas matérias, ainda “descontaminada” daquilo que são o ambiente e a natureza dos seres em seu redor, de modo que as suas intuições estão em modo de eficiência máxima.
Tenho, por isso, muito respeito por estes pacientes mais reduzidos em tamanho, mas não em sabedoria fundamental – e temo pelo dia em que algum estrebuchará quando me vir abordar medicamente a sua cavidade oral, pois porei, imediatamente, em questão o meu juízo, estado emocional (e energético) e a própria necessidade de intervenção.
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Leia na íntegra o artigo na Revista DentalPro 177.
10 Setembro, 2024
Opinião