“Não sinto a pressão dos resultados financeiros”

A directora técnica e de assuntos regulamentares da farmacêutica Angelini assume a mediação com as autoridades da entrada dos medicamentos da companhia em território português. Mafalda Mendonça referiu à DentalPro quais as linhas de orientação da actual investigação em fármacos e antecipou as próximas apostas na área da higiene oral.
DentalPro: O que é que a Angelini reserva para a área da medicina dentária?
Mafalda Mendonça: A Angelini tem o seu próprio centro de Investigação & Desenvolvimento (I&D), localizado em Itália, mais precisamente em Sta Palomba, Roma. De lá têm saído produtos bem conhecidos no nosso mercado na área da medicina dentária e amplamente prescritos pelos médicos dentistas e estomatologistas, como o Tantum Verde e o Tantum Protect, para a higiene oral, o Aulin e o Donulide.
DP: No que se refere à ética dos grandes grupos farmacêuticos, sente na sua actividade diária a pressão dos resultados financeiros?
MM: Não, não sinto pressão dos resultados financeiros. Sinto antes a enorme responsabilidade de contribuir activamente para os bons resultados da empresa onde trabalho. Relativamente aos preços/ética dos grupos farmacêuticos, gostaria apenas de referir que os valores dos medicamentos obedecem a legislação própria e resultam da aplicação de requisitos muito específicos em termos de cálculo e de comparação periódica com os valores praticados em Espanha, França, Itália e Grécia – países considerados como referência.
DP: Os quatro pilares da indústria farmacêutica, a investigação, o desenvolvimento, a produção e a comercialização, fragmentam-se com a deslocalização das unidades produtivas. É, de facto, a melhor alternativa para o avanço do ramo?
MM: Penso que, como em outros sectores de mercado, nos dias de hoje, a indústria farmacêutica deve redefinir as suas estratégias de actuação. O tempo disponível para a rentabilização de cada medicamento é cada vez mais curto. Os custos de I&D estão cada vez maiores e os critérios de qualidade sempre mais exigentes. Este ramo trabalha com medicamentos, ou seja, com excelência em termos de qualidade, segurança e eficácia. Para manter essa perfeição no estrito cumprimento de todas as boas práticas e normas internacionais, em conjugação com a pressão imposta pela concorrência, a gestão eficiente de recursos e o estabelecimento de parcerias estratégicas surge, praticamente, como uma imposição.
DP: Está neste momento dedicada a algum projecto em específico?
MM: Na área da medicina dentária estamos a trabalhar na preparação do ‘dossier’ técnico de um novo produto para a higiene oral diária, especialmente formulado para dentes e gengivas sensíveis, com vista ao seu lançamento no mercado nacional num futuro muito próximo.
DP: Qual é o desafio futuro para a área da investigação farmacêutica?
MM: Passará, certamente, por ultrapassar a escassez de novas moléculas e pela capacidade de inovar, fazendo uso das novas tecnologias. Uma maior interdisciplinaridade entre a tecnologia farmacêutica clássica e, por exemplo, a biotecnologia, a nanotecnologia, entre outras, poderá contribuir para o desenvolvimento de novas formas farmacêuticas, fármacos com perfis cinéticos mais ajustados e com menor toxicidade, enfim, para o maior bem-estar do doente.
BIO: Ana Mafalda Mendonça nasce a 23 de Fevereiro de 1965 em Cascais. Integra a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa em 1983, para completar a licenciatura em Ciências Farmacêuticas. A sua vida profissional é dedicada na totalidade aos medicamentos, com experiência nas áreas de farmácia de oficina, controlo de qualidade, implementação de sistemas de qualidade e assuntos regulamentares. Na Angelini assume a função de directora técnica e de assuntos regulamentares. O seu trabalho passa por obter e manter as autorizações de introdução no mercado nacional de todos os medicamentos comercializados, assim como proceder ao seu registo e notificação junto das entidades competentes.
21 Outubro, 2009
Entrevistas