“Temos profissionais de corpo inteiro”

O advento da Associação Portuguesa dos Técnicos de Prótese Dentária (APTPD)está intrinsecamente ligado à sede de formação e de identidade que existia no sector. No arranque do novo projecto LabPro, dedicado aos técnicos de prótese, damos aqui destaque ao representante máximo da classe.

DentalPro: A par da formação, a comunicação constitui um pilar essencial para o crescimento da profissão?

João Carlos Roque: Sim, sem dúvida. Torna-se imperativo que os técnicos de prótese falem a uma única voz, participando em fóruns onde possam levantar as suas dúvidas e os seus anseios. Desde o início que a APTPD ambicionava publicar um boletim, chegando até a fazer alguns números, mas a ideia caiu por terra. O novo veículo LabPro é central para esta comunicação directa com os profissionais. Os técnicos recorrem sistematicamente a revistas estrangeiras  e a possibilidade de termos uma publicação portuguesa que funciona como veículo privilegiado para os técnicos de prótese, veiculando as suas ideias e o seu trabalho, revela-se extremamente importante para a valorização da prótese dentária.

 

DP: Após anos de luta, a situação da regularização dos profissionais de prótese dentária continua por resolver. O que falta para atingirem este propósito?

JCR: Acima de tudo, fazer entender ao Ministério da Saúde que os técnicos de prótese são hoje profissionais de corpo inteiro e merecem ver a sua situação regularizada. Um grupo de cerca de 200 profissionais foi capaz de regularizar a sua situação através da formação pós-laboral realizada pela Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL), baseada no conjunto de conhecimentos científicos exigidos aos novos técnicos. Este processo foi objecto de um trabalho de investigação e os resultados revelaram a utilidade e o mérito deste modelo. Com base nestas conclusões, entregámos no Ministério da Saúde, há mais de cinco anos, uma proposta que tinha por base a aposta na formação pós-laboral para requalificar os restantes profissionais no activo que não preenchem os requisitos legais exigidos ao exercício profissional. Porém, apesar da receptividade inicial do projecto, este continua numa qualquer gaveta do Ministério, o que nos deixa bastante desagradados.

 

DP: Está confiante quanto ao futuro da profissão?

JCR: Gostava de dizer que sim, mas infelizmente subsistem muitos problemas por resolver. O que se verifica é que a articulação da formação com o processo de Bolonha reduziu a componente prática do curso, essencial para o desempenho profissional. Agora, parte dessa aprendizagem faz-se no local de trabalho. Para além disso, o Ministério da Educação criou cursos ao nível do ensino secundário para auxiliares de técnicos de prótese e não existe enquadramento profissional adequado para estas pessoas. Abriu-se uma porta para a desarticulação do exercício profissional e urge reequacionar o modelo de formação existente e definir, ao nível da profissão, as balizas que devem erguer-se. Contudo, acredito plenamente na capacidade dos técnicos de prótese dentária portugueses darem um passo em frente, contribuindo para esclarecer os objectivos e limites da sua acção enquanto técnicos de saúde.

 

Texto integral na edição 31 da Revista DentalPro

10 Novembro, 2010
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